sábado, 27 de agosto de 2011

PALAVRAS À VENDA














Foto EDU RICKES


Desde a hora que identifiquei o que realmente seria minha profissão, entrei em conflito com vários detalhes que ofendiam o critério de ser artista sem nunca ter buscado qualquer tipo de estudo para tal. Na caminhada de 14 anos compondo, foram surgindo oportunidades de tornar profissão o que sempre foi uma brincadeira maravilhosa e emocionante. Então, sem entrar em detalhes, que provavelmente estão mais nítidos para vocês do que para mim, chegamos ao hoje, dia em que anuncio ter palavras à venda.

Esse Livro Musicado como prefiro chamar o Canto Ancestral, falará por si, e logo minhas palavras de apresentação serão dispensadas. No lugar delas estará a sensação dos leitores e ouvintes que já não mais dependerão de mim, e sim, do que avaliei como necessário ser registrado nesse momento. Algo tão simples que corre o risco de ser menor que a expectativa criada.

Nunca fui adepto da mídia massacrante sobre algo que tivesse ligação com arte, e então me deparo com a ferramenta gratuita da internet oferecendo, num simples enter, a propaganda positiva que sempre almejamos e nunca esteve ao alcance do artista. Principalmente dos que vieram antes de mim e, por muitos anos - literalmente - comeram nas mãos ambiciosas das empresas de divulgação e colheram a glória da vaidade e depois morreram com a fama emponchada de pobreza.

Estão sim para vender senhores minhas palavras!

Compartilhem como um grito da culatra até o ponteiro, pois realmente é orgulho o que sinto agora, divulgando o que me toca nesse mundo onde o estudo, na maioria das vezes, infelizmente, não credencia os dignos a vender o que lhes toca.

Está aqui, antecipando a bolicheada:



Eis o caminho para que adquiram o primeiro volume deste Canto Ancestral que terá o número de volumes que a minha vida permitir. Aceitem com carinho o volume I - projeto produzido pelo grupo Curandeiro Silêncio, família que não necessita ser nominada individualmente, pois trabalhamos juntos para o bem coletivo de uma raça.

Com muito carinho e respeito, agradeço à Faculdade Dom Alberto de Santa Cruz do Sul pelo apoio e a confiança fundamental.

Estaremos, com humildade, degraus acima na escadaria infinita da vida porque definitivamente nada nesse mundo é por acaso.



Lisandro Amaral
Bagé, 27 de agosto de 2011.



domingo, 21 de agosto de 2011

Coisas que o tempo não mata



A lua é minguante, a noite um feitiço
e o sol é o bastante pros meus compromissos...
Não fosse esta chuva, eu teria potrada!
E embora o inverno, eu seria mais cerno
e estaria eterno domando na estrada.

Aos tantos gaúchos que o tempo consome,
aos tantos sem nome que a Pátria ignora
eu clamo no agora e entrego o que tenho...
Irmãos que mantenho ao alcance do verso
e assim eu regresso ao lugar de onde venho.

Passei um dia de "loqueteio" no trânsito da nossa importante Capital, até que cheguei na rodoviária, após horas e horas rodopiando no conturbado fluxo automobilístico metropolitano, envolvido com as funções de concretizar o projeto Canto Ancestral. Penei tanto que fiquei meio ansiado como dizem na campanha. Trocaria um CD novo por um ENO da minha falecida vó.
O mau humor causado pelo trânsito até me deu vontade de vender mais caro o Livro. Mas vocês não têm nada a ver com isso. Ou têm...?
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Uma feita o "Nelso Leja" - folclórico domador fronteiriço - estava ajustado na Santa Margarida, Estância renomada na região de Bagé. Dizem as bocas galponeiras, que esparramam causos pelos galpões, que Nelso, decidido gaúcho e sempre só (com a canha) ou acompanhado de um ajudante inexperiente, destes que ele costuma chamar de “Ensaboado”:
– “nã os diabo me procuram,  pedem uma boca de ajudante, mas são ensabuado, um bagual se sacode co´as garra e eles cai!  Bah!!! Depois o Nelso é loco... anda quaji sempre sólito co’a  cavalhada por diante. ” (e a canha)
E tinha razão o Nelso, a mão de obra, nesse meio rural, é complicada desde os tempos do Sepé Tiarayu que, dizem as línguas, parou de domar por falta de ajudante!
Nelso decide cruzar com um lote de potro a BR 153, que passa em frente à Santa Margarida,  solito, ou melhor, ele e a canha, o cavalo que andava e Deus. Este último senhor eu tenho certeza que andava.
Agora peço licença para tentar descrever o "cuento" no seu linguajar, e aproveito também, pra pedir que imaginem: um tipo indiático, misturado aos traços que a gauchada pegou dos povos vindos de fora, e derramem nele, anos de sol a pino, geadas bagualas e muita, mas muita poeira de mangueira. Ah! E é claro, não esqueçam de desenhar em nosso personagem umas bolsitas nos olhos mal dormidos de acumuladas madrugadas de surungos na Cleia Rocha e o aspecto avermelhado de um gaúcho embalsamado em canha, muita canha pra engolir o desconforto.
Diga Nelso:
– "nã eu saio rapá, solito com um lote de potro sabe? Da Santa Margarida, dos "Mógle" onde eu tava domando. Eu e Deus né tchê. Sem nem um ensaboado pra me ajuda rapá.
E não é que do-lhe portera – pôs tinha que cruzá na faxa -  ia pra umas gauchada no 93 e, como sempre, levo um lote de bagual pra estendê.   Que sempre sai algum empachado que se alinha só na estrada e, às vez, de noite.
Nã rapá, quando saio e o olho, vindo do lado de Porto Alegre, um quexo curto, destes Fiet... mas a sorte é que não vinha tão ligero o quexo curto e foi quanto que o home defendeu o primero bagual, e eu barbaridade!!! Quaji morri rapá... ia matá uns cavalo de luxo,  que vendo tudo que tenho e não pago a cola dum matungo destes. Tudo criolo da Santa Margarida sabe? Dos Mógle.
Quando o home livrô o segundo bagual eu peguei a me aliviá,  porque vi que o home não era manco... E o quexo curto arrodiva se desviando dos cavalo. Lá pelo meio da cavalhada rodopiô e se foi... se foi que  ficô de novo co’a  cola virada pro lado de Porto Alegre.
E eu só mirando no más por que nem reza não sei rapá! Mas Deus andava comigo e eu te juro rapá: não tinha tomado nada. Só mate!
Quando esse home se baxo do auto: pra que? Imagine um home brabo. E o que é pior - com razão...
O home me xingava e me putiava... eu fui me apeando e tirando o chapéu... com o coração saltando pela boca eu dizia pro home véio: possa xingá no más companhero, o sor tem razão só me dexe le dizê uma coza e se possível le dá um abraço porque o SENHOR É GUIDOM, o SENHOR É GUIDOM.

Um pouco de alegria no Diário do Andante
Coisas que o tempo não mata
mesmo que morram BASTANTE...
Pedindo ao Nelso que dome,
com canha, sorte e humor
Eu seguirei andarilho
- nativo eu sou cantador  -
minha cachaça é meu verso
e eu peço ao tempo que os Nelso
sigam no campo SENHOR.


Lisandro Amaral
Estrada, 18 de agosto de 2011

sábado, 13 de agosto de 2011

O tempo adulto que a mãe terra dá

        
         
           

Neste dia de contemplarmos a importância da paternidade, posiciono-me dos dois lados. Vejo na tela  i  m  e  n  s  a,  nítida e muitas vezes nublada, a imagem de meu pai,   quando agora me encontro na posição de ser um.

Recebi alguns dias atrás um convite de um Site, destes que tem como o propósito a divulgação dos acontecimentos nativistas. Pediram que eu escrevesse sobre o significado de ser pai. Pensei imediatamente na condição impossível da definição. Ser pai não é algo que se tem conceitos escritos, falados e nem mesmo cantados, mas também pode ser, em todas estas alternativas de expressão humana, na tentativa racional de desabafarmos a sensação de sermos o emocional compromisso da paternidade.

Quando a Maria Rita nasceu, em 2006, eu estava filmando  sua chegada “indescritível” na manhã de abril, e a noite, eu estava no palco cantando em verdadeiro estado de graça.
Quando o João Antonio chegou, em junho de 2010, eu também o registrei em imagem e verso, e alguns dias depois, retornei para as gravações deste trabalho que finalizo agora. Identifiquei imediatamente nas duas chegadas, a fusão de sensações causadas pela presença deles na música. E quando falo em música, não falo apenas na minha, e sim, na musicalidade que ambienta o mundo, ou melhor, a vida que se tornou diferenciada e indescritivelmente MELHOR.
A saudade de meu pai, em mim, tornou-se força! O herói que se transformou em homem quando eu alcancei a adolescência, agora retornava no meu poder de ter a capacidade de fazê-los voarem sem asas, de ser dono do tempo, de ter a imagem indestrutível e fascinante do homem mais importante na vida deles "os mais importantes seres da minha vida".
Salvem a guarda das magias que temos neste instante, pois nunca mais tentarei me definir pai. E quando eu lembrar do amanhã de meus filhos, estaremos na eternidade que espero ter neles os imaginando meus irmãos. Guardiões do envelhecimento de seus pais, e dignos existentes neste mundo onde existir é fundamental, e ser é a consequência de atos e efeitos, desculpas e culpas, quedas e glórias, reflexões e reações.

Andarei na estrada do meu tempo – curandeiros -
Estarei na imaginária presença que retornará!
Serei o vento em sopro manso da canção paterna
Que não governa o tempo adulto que a mãe terra dá.

Serei o pai, que tão ausente, é mais presença ao ser canção de vento...
Retornarei aos bons ouvidos num abraço – c h e i o de esperança
E aos meus bons frutos levarei a intenção eterna
de ser pai em tudo que a consciência escreve em minha luz CRIANÇA.


Com muito carinho

Pai

Estrada -12 de agosto de 2011

sábado, 6 de agosto de 2011

Era umas vez um homem que sonhava...


                                  foto Miza Limões

Era umas vez um homem que sonhava...


Muitas noites eu sonhei que não tinha nada e quando acordei, percebi que o que tenho é tanto.

O tanto suficiente para dormir tranquilo e, acordado, me transformar em vida para seguir sonhando.

O amanhã depende muito do hoje...

Sonhe hoje, acorde amanhã e faça seu hoje melhor do que ontem.

Era uma vez um homem que se deixava sonhar

que era um  menino e acordava no campo...
cantando sua terra inundada de sonhos.


Tenham um amanhã melhor que hoje... pois eu seguirei andando no diário dos meus sonhos com a missão maravilhosa de sonorizar os teus.

Com carinho    Lisandro Amaral
Estrada , 04 de agosto de 2011.