segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Estrada





Após a última apresentação dos festejos em reverência á Semana Farroupilha 2011, partimos de Fraiburgo, no Estado de Santa Catarina, cidade que registra 750 Km de distância de Pelotas, onde residem os amigos e músicos que me acompanham e formam o Grupo musical Curandeiro Silêncio. Renderiam muitas páginas agradecer os palcos que nos receberam e o tanto que tenho para dizer para estes amigos que formam minha família, hoje, mais que musical.  
Refletia sobre o momento de minha vida e, na solitária viagem de Pelotas até Bagé, vários desses momentos cruzavam na memória, até que cheguei aos dias de minha infância onde meu pai - Sidney Garcia Brião - atendia-me com a importância que jamais encontrei no caminho depois deles – meus pais –
25 de setembro de 2011, ele estaria completando 65 anos e eu rezei por ele exatamente no ambiente que lhe foi profissão   A Estrada.
Juntos novamente, caminhamos...  Eu sobre meu compromisso cantor, ele observando minha felicidade ao ter uma profissão andante que remunera-me honestamente e determina meu futuro. Provavelmente, para quem crê, no momento em que eu dirigia emocionado, ele sorria comemorando meu destino e os 5 mil quilômetros que rodamos pelo Canto Ancestral.
Incomparável o destino dos andantes...

Dedico o agradecimento, neste final de compromisso, aos olhos do setembro e alumbrado de primavera, oferecendo aos andantes diversos que buscam seu rumo dignamente caminhando.
Ofereço a leitura de Peregrino, algo que escrevi olhando para meu pai em seus últimos passos neste plano de saudade e reflexão.

Obrigado pai. Comemorarei a vida que fica, dia após dia eterno  P e r e g r i n o...

Que a vida seja, entre curvas e espinhos, uma flor bonita, se abrindo a cada sorriso que tens para oferecer ao sol...
Que a vida seja, entre amigos e flores, um novo sorriso para agradecer a Deus... 
ELA a vida!
Que a força que tens, entre curvas e espinhos, seja redobrada para os fardos pesados que teimamos e conseguimos carregar!
 Pela alma de Deus...
Que o teu futuro esteja aberto, como a alma da lua está aberta, para iluminar os sonhos impossíveis que buscamos e por iluminados... 
SONHAMOS... SONHAMOS
Peregrinos...  eternos peregrinos...




Cruz aberta igual o abraço que preciso...
meu sorriso em meio a tanta tempestade.
Há na vida,  muito mais que além da vida
e entre luzes muito mais que a claridade!

Um peregrino disse um dia, em meio as flores,
que era além daqui que estava o bom sorriso.
Caminhei, busquei bem mais que a luz das almas
e encontrei vivendo tudo que preciso...

O homem teima  e sabe - do sem fim das as horas -
em que viver, não é motivo pra sorrir...
E peregrino, segue a luz maior das almas:
caminho, pedra e cruz   pedindo pra florir...

Amar o amor em cada um que habita em mim,
sonhar bem mais que andar - sem luz - e florescer!
Eu me fiz tempo e vou cruzar semeando luz
igual a cruz que eu carreguei pra renascer...

Lisandro Amaral

Santa Maria, abril de 2005




sábado, 17 de setembro de 2011

Caminhada

foto do meu grande amigo Alexandre Teixeira



Nesta caminhada pelo canto ancestral, entenderei mais o motivo de estar aqui.

Peço força e agradeço... Agradeço e uso a força para cantar.


Feito a calhandra que povoa coronilhas
estamos esparramando - em devolução - 
as ervas que curaram cicatrizes...
E a melodia, adoçada em primaveras,
traz sombra de umbu, que embora de caule fraco,
doa raízes para o descanso dos andantes
e diminue ausências no esquecido das taperas.


Obrigado força que me tornou andante e agarrado ao Canto Ancestral.


Lagoa Vermelha - RS    


madrugada de 17 de setembro de 2011. 

domingo, 11 de setembro de 2011

Payadoresco

Attila Sá Siqueira - 1997






Payadoresco



Deus te abençoe payada
Neste costume do verso
Desde que é “gaucho” o universo
Na geografia formada.
Encilhei de madrugada
Com  borborim do banhado...
Cantos recém acordados
E este galpão vai largando:
Peonada e sonho tiflando
Pra camperear lado a lado.

Queria cheirar a escrita
Do papel onde bordastes,
Do pampa aonde riscastes
A campereada infinita
Há uma ausência que grita
Quando te escuto Caetano
Em Juca Ruivo - pampeano,
Marques Da Rocha em teu canto
Que chora vivo em meu pranto
As potreadas do Aureliano.

E o sol chega encabulado
Por trás da nuvem lobuna
Não sabe o quanto é fortuna
Neste setembro judiado
Já cruzamos pra este lado
Ficou pra trás o inverno
Fogo grande cinza e cerno
Renovações que se espera
Parece que a primavera
Nos torna vivos e eternos.

Payadoresco amanheço
Por tua culpa Caetano
Igual ao índio que irmano
E nem sei se então mereço
Saber do fim, reconheço
Que tem quem busca o regresso
Não me interessa o progresso
Payador, sim, diplomado
No borborim do banhado
Onde respira o teu verso.


Nasce enfim o dia pleno
Campeiros, pingos suados
Surgem largos descampados,
Evaporou o sereno
Indiada pelo moreno
Curando gado e consciência
Eu não sei se a penitência
Que recebi de outras vidas
Era curar as feridas
Mas te agradeço – querência.


Payadoresco amanheço
E vejo em ti primavera
Alegria nas taperas
Que tento e sim reconheço
Aos que partiram – un beso –
Molhado em aura charrua
Esta gesta que flutua
Em nosso sangue moldado
De algum verso inacabado
De um Jaime olhando pra lua.


Fogo grande cinza e cerno
Renovações que se espera
Parece que a primavera
Nos torna vivos e eternos.


                                                                                                              24 de set 2009
   

sábado, 3 de setembro de 2011

Um trago de alma guardada



Quando me falta o saber
por esta simples cruzada,
um trago de alma guardada
de tempo em restos que devem
por muitas vezes me pedem
por uma insana lembrança...
é ali, que a dúvida alcança
e os tempos velhos escrevem.

O inédito, a alma e o medo...
O branco -  agora palavra -
"mi nombre" quem firma e lavra
- no pergaminho do agora -
terra a dentro, um par de esporas
sangrando o eu que não vale...
peço ao que sou que se cale
não sei quem fala esta hora.

“Gauchos, índios y guerreros”,
negros com marcas sem cura?
ou brancos na noite escura
da vida que foi errada?
Mala suerte na passada,
pedem perdão e eu escrevo
e, certamente o que eu devo,
pago também na cruzada!

Aqui estou, e lá fora...
O mundo - igual para muitos -
fecundam novos assuntos;
povos se adornam de escuro
e o inconsciente, que eu juro,
trazer do mito e do medo
é!!! Meu Genuíno em segredo,
negro que escrevo e não curo.

A vida é corda pra forca...
e o nó, quem ata é o que vive.
Muito que eu quis, eu não tive!
 - Perde a razão o que erra...
O meu saber pouco encerra,
é um trago de alma guardada
que escrevo nesta cruzada
num compromisso de terra.

“Con permiso y sin permiso”
entro no mundo lá fora.
Verdade ou mentira agora?
Ato ou desato meu nó?
Por tantas vezes sou pó
domando o potro esperança
nesta hora eu sou criança
e a poesia está só.


Num trago de alma guardada.


"Chiripá rojo" (óleo) del pintor de Uruguay Juan Manuel Blanes (1830 - 1901).