domingo, 27 de novembro de 2011

Em Linha



Na fuga diária dos termos que modificam nossa língua, principalmente para o inglês, vou aqui escrevendo apenas com meus tropeços de fronteiriço, por estar a 60 km do velho rincão de Aceguá.
Sigo em linha, e não online, como a maioria que conecta-se ao infinito mundo das páginas  de informações e entretenimentos  “web” . Vários são os Sítios onde passeio - em linha - para acompanhar o mundo ao vivo e manter-me informado e, se possível, informando.





                  Há poucos dias, quando cruzei com o desenho acima - algo de expressão simplesmente indescritível - cheguei logo ao bloco:     http://www.palavrasdearlete.blogspot.com//  onde encontrei o email da senhora Arlete Gudolle Lopes, encantadora entusiasta deste mundo em linha. Logo trocamos e-mails que se destinavam a encontrar o autor dos “dibujos”.

                 Bueno, agora eu acompanho sua página e ela o meu humilde diário do andante. Já sabemos que o magnífico caricaturista trata-se de:  Tato, um ilustrador autodidata, natural de Santa Fé, Argentina.

Acompanhem o artista pelo espaço gauchaje 



Que sigam as linhas cruzando os andantes;
Que sejam diamantes as novas palavras...
E as almas escravas do mundo a escrever
Não percam o ser e nunca permitam
Que o mundo virtual supere a presença;
Que o mundo não esqueça e um dia os alerte:
Que o som da internet não é nem será
Melhor que o sabiá num canto instintivo!
Online ou ao vivo nós somos reais
E o sítio jamais terá a força de um LIVRO!



Com muito carinho dedico este texto aos infinitos contribuintes para a preservação da palavra impressa ou não.

 



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A pureza do por do sol na fibra da "Curunilha"

                      foto Fernanda Botelho Vieira Polino

No dia 5 de novembro estive na Estância “Curunilha”,  localizada entre os municípios de Bagé e Aceguá. Propriedade cujos campos chegaram às mãos do seu guardião atual,  Manoel de Moraes Valls (Lito) pelos caminhos normais de descendência e sucessão rural.
Conhecendo de certa distância os detalhes da vida desse homem, hoje um grande e iluminado amigo, observei seus passos desde que o encontrei, há 12 anos, quando eu ainda prestava serviço no Hospital Militar de Bagé.
          Após ter lutado contra uma enfermidade que o atingiu aos 20 anos, quando o mesmo também cumpria seu tempo militar, Lito comemorou - nesse dia 5 - meio século de vida regada a determinação, disciplina, coragem, esperança e muito amor familiar.
          Tenhamos certeza que existem balsamos e ervas que o campo oferece em suas águas e frutos, para que o filho da terra vença enfermidades que raros vencem.

Num dia emocionante na Estância Curunilha, recitei o que escrevi para esse amigo e, principalmente para sua esposa, a grande companheira Mariléia Vieira Valls (Leca) que entende e deve orgulhar-se muito de ser parte importante nessa comemoração.

Obrigado Lito, Leca e filhos!

 Família que tem a pureza do Por do sol na fibra da Curunilha.  



GUERREIRO EM 2011


Coronilla é um dom guerreiro, soldado em setenta y pico.
Nem sabia o que era rico, na concordância do ter...
pois o verbo “amanhecer” lhe valia, e vale ainda,
quando Coronilla brinda a luz do anoitecer.

Para os olhos do egoísta, Coronilla causa inveja,
pois o que o mortal almeja  Coronilla  tem pra dar!
A luz da vida no olhar, a rigidez da coragem
e a paz no emblema da imagem no peito e em brasa a gritar:

está  viva a coronilha!!!  Vida no canto do galo...
Vida “en su gaucho” a cavalo, enxergando a tropa inteira.


Coronilla é uma trincheira, com torrões de parador,
e, por vaqueano e senhor, ensina o que não tem vida,
que só conhece a partida quem tem vergonha do amor.

Vou te copiar, Coronilla, hei de aprender a coragem,
pois  a poesia selvagem  não me ensinou  a ter dor.


(O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega fingir que é dor
A dor que deveras sente.)
                                 Disse a poesia em Pessoa.

E tu? Tu, sim, tens a vida boa!  Esta que acende na luta,
esta que marca a conduta,  e o que é maior multiplica...
Raiz que então glorifica os que protegem tua luz;
OBRIGADO – cerne em cruz, braços abertos, querência,

Meio século de existência,

E tu segues – dom guerreiro –, soldado em setenta y pico,
E podes saber que és rico, na concordância do ser...
pois o verbo “anoitecer” lhe valia, e vale ainda,
quando tua gente brinda a vida no amanhecer...

Coronilla é um bom lanceiro "y gaucho” em busto de bronze
Na missão árdua da vida:   Guerreiro em 2011.

04 de novembro de 2011

fotos: Maneco Valls

                                     Manoel de Moraes Valls (Lito)

sábado, 12 de novembro de 2011

O inesgotável mundo dos livros


O inesgotável mundo dos livros, onde mergulho lentamente, tem feito-me viajar como sempre necessitei. Porém, o tempo que tenho - e terei – obviamente não será suficiente para preencher necessidades nômades do meu espírito - peregrino das palavras. Sigo ao tranco e lentamente sobre o campo amarelado das folhas, feito quem ensina um redomão a caminhar, manso e em passos largos, antes do trote.
Muitos são os livros que me aguardam, consciente disso, leio tranquilamente os que cruzam desorganizadamente meu dia a dia.
No momento, tenho nítido frente aos olhos O Continente no Tempo e no Vento de Érico Veríssimo, nele, o coração e a imagem indescritível de José Sepé Tiaraju, que habita meu mate, como que dizendo em páginas folheadas, que não sei nada deste mundo que represento musicalmente. Noto então, no meu minúsculo saber, o conflito histórico e o abismo que nos oferece flutuantes informações.
Muitos são os convenientes testemunhos que chegaram até mim, e tantos outros que fazem parte da massa manobrada, nascida ou habitante do Continente de São Pedro, desde os tempos de Sepé.
Gracias e perdão peço agora pelo que já escrevi de maneira irresponsável. Seguirei - mesmo assim - nesta caminhada que me cabe.
 A música e o verso rondam minha mente como um perfume, em que a tampa, não tem força suficiente para conter o líquido que traz - em sua fórmula - o compromisso mágico de exalar.
Respiraremos o que tem a dizer o caminhante e desconhecido andante de tempos, que juntou e junta elementos místicos e materiais, para contar, agora e aqui, em páginas também flutuantes, algo que grita solitário carregando ao peito, feito quem carrega um filho, o punhal de prata do índio Pedro Missioneiro, na inegável missão de exalar o perfume necessário de nosso tempo a ser escrito.
Em qual volume estarei na edição da existência?
Trigésima quarta página anual do capítulo Lisandro Amaral Brião.
Fui impresso pelos meus pais, e sou revisado diariamente por leitores e ouvintes deste livro que caminha preocupado com o hoje, os olhos no ontem e as lágrimas no amanhã que infelizmente há de chorar.

Michel Foucault, o pensador francês, em sua obra
"A Ordem do Discurso" destaca:

Somos bocas a pronunciar discursos muito antigos, cuja "essência" vem de longos tempos, mas que adaptam suas "aparências" ao longo dos tempos, através das bocas que os pronunciam.



Que sejam pequenos meus feitos, mas que causem algo de bom...




Canto Ancestral na Estrada

Visitem a feira do livro de Porto Alegre.

Temos um encontro hoje 12 de novembro, às 19h no estande da AGEI – Associação Gaúcha de Escritores Independentes.

Amanhã – domingo – 13 de novembro em Pelotas, também na Feira do Livro – às 18h e 30min no estande da Livraria Mundial.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Guerreiros

de Átilla Sá Siqueira


Bom dia amigos

“Não odeies o teu inimigo, pois se o fazes, és de algum modo seu escravo. Teu ódio nunca será melhor que a tua paz.

Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.

Não julgues a árvore por seus frutos, nem o homem por suas obras; podem ser piores ou melhores.”

Jorge Luis Borges.


Aproveitando que este espaço chegará a meio ano de existência no dia 14 deste mês,  agradeço o carinho oferecido em muitos comentários – postados ou alcançados verbalmente.
Divido com todos neste depoimento, que realmente ilumina sentir que o que escrevo pode ser útil de alguma maneira para alguém. Tenho vários motivos para comemorar quando acordo e, por ser atuante nos palcos da noite, também agradeço meu trabalho quando durmo.
A situação social no mundo precisa muito de pequenas reflexões e principalmente, de grandes atitudes que, no conjunto final será a principal arma numa não impossível vitória.
Eu não desisto do que me faz bem, pois só assim poderei oferecer algo de bom aos que cruzarem no meu diário real e caminhante.
Lendo a vida atual, percebi que lealdade ao inimigo nunca diminuiu o guerreiro... pelo contrário, alcançar a espada para que a luta seja igual faz uma grande diferença no final do duelo.
Vamos refletir a intenção dos problemas que identificamos como inimigo atual, e avaliaremos qual o efeito que causará derrotá-lo. Invista em meditações e aja com firmeza. Aceite correr riscos! Sonhe! É muito possível que no meio do temporal, ou do naufrágio, surja o inesperado que envergonha quem não teve fé, e só acreditou em razões matemáticas que proibiram antes o sabor saudável da aventura.
Esteja perto do amor, mantenha distância do ódio, mas o observe como um inimigo a ser respeitado e no momento exato DERROTADO.


FRAGMENTOS DE UM EVANGELHO APÓCRIFO. Jorge Luís Borges
Do livro ELOGIO DA SOMBRA.

3 -Mal-aventurado o pobre de espírito, porque sob a terra será o que é agora na terra.

8 Feliz o que perdoa os outros e o que perdoa a si mesmo.

9 Bem-aventurados os mansos, porque não condescendem à discórdia.

10 Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque sabem que a nossa sorte, adversa ou piedosa, é obra do acaso, que é inescrutável.

11 Bem-aventurados os misericordiosos, porque sua felicidade está no exercício da misericórdia e não na esperança de um prêmio.

12 Bem-aventurados os de coração limpo, porque vêem Deus.

13 Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque lhes importa mais a justiça do que o seu destino humano.

14 Ninguém é o sal da terra; ninguém, em algum momento da sua vida, não o é.

15 Que a luz de uma lâmpada se acenda, mesmo que nenhum homem a veja. Deus a verá.

16 Não há mandamento que não possa ser infringido, e também os que digo e os que os profetas disseram.

18 Os atos dos homens não merecem nem o fogo nem os céus.

19 Não odeies o teu inimigo, pois se o fazes, és de algum modo seu escravo. Teu ódio nunca será melhor que a tua paz.

20 Se a tua mão direita te ofender, perdoa-a; és teu corpo e és tua alma e é árduo, senão impossível, fixar a fronteira que os divide...

24 Não exageres o culto da verdade; não há homem que ao cabo de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes.

25 Não jures, pois todo juramento é uma ênfase.

26 Resiste ao mal, porém sem espanto e sem ira. A quem te ferir na face direita, podes voltar a outra, desde que não te mova o temor.

27 Não falo de vinganças nem de perdões; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.

28 Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.

29 Fazer o bem ao teu inimigo é a melhor forma de satisfazer a tua vaidade.

30 Não acumules ouro na terra, porque o ouro é pai do ócio, e este, da tristeza e do tédio.

31 Pensa que os outros são justos ou sê-lo-ão, e se não for assim, não é teu o erro.

32 Deus é mais generoso que os homens e os medirá com outra medida.

33 Dá o que é santo aos cães, joga tuas pérolas aos porcos; o importante é dar.

34 Procura pelo prazer de procurar, não pelo de encontrar...

39 A porta é que escolhe, não o homem.

40 Não julgues a árvore por seus frutos, nem o homem por suas obras; podem ser piores ou melhores.

41 Nada se edifica sobre a pedra, tudo sobre a areia, mas nosso dever é edificar como se fosse pedra a areia...

47 Feliz o pobre sem amargura ou o rico sem soberba.

48 Felizes os valentes, os que aceitam com ânimo semelhante a derrota ou as palmas.

49 Felizes os que guardam na memória palavras de Virgílio ou de Cristo, pois estas darão luz aos seus dias.

50 Felizes os amados, os que amam e os que podem prescindir do amor.

51 Felizes os felizes.


Aguardo vocês na Feira do Livro em Porto Alegre dia 12 sábado às 19h, no estande dos autores independentes.
Em Pelotas dia 13 (Feira do Livro) Livraria Mundial 18h.

Tenham uma boa e digna luta.