segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carvalho Pereira - Comandante da Costa do Rio Grande

Na semana passada, por compromissos pessoais, não pude estar no dia de comemoração aos 50 anos do amigo e estimado poeta Sérgio Carvalho Pereira.
Ainda não o encontrei pessoalmente, e em vez de telefonar, resolvi escrever estas linhas, feito uma carta aberta. 
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Há meio século escrevendo o Continente Pampa, presenteastes a alma dos sensíveis, e por grande, não imaginas o benefício de tua existência.
Esteve na infância dos que ouviram as estrelas de chão e teu gateado assustado que facilita e se nega... bem pro sul de nossas virtudes enraizadas.
Sérgio, são muitas as precisões que necessitamos para viver, e se tivesses comemorado – solitariamente - teus 50 anos de vida, tua consciência falaria  - por todos nós - que estás aqui há muito mais tempo.
Nos chãos batidos de saibro vermelho, no batismo simples quando um laço corre – pela primeira vez – nas mãos de um guri, ou quando alguém por gosto ia de tiro atrás do perfume da  sombra da noite.
Sérgio Carvalho Pereira é o campeador da filosofia em linguagem sem polimento, embebida na lágrima de um idioma que se perde cada vez que um gaúcho deixa o campo.
De tão grande tua gana de falar por eles, ultrapassas, feito tantos, a fronteira da palavra e, divagas pelas muitas formas poéticas de dizer: que nascestes para cantar tua Querência.

Teu primeiro canto está junto aos muitos soldados que comungam de tua doutrina e servem comigo no pelotão musical Curandeiro dos Silêncios. Estamos retornando à linguagem dos galpões!
Tenha a certeza que os rádios voltarão a sintonizar, pelas Estâncias, o compasso chamarreado e petrificado em resistência.
Será teu presente de aniversário desta legião que te segue e admira, em continência ao comandante: Carvalho Pereira – vigilante do mais alto mangrulho na costa do Rio Grande. Regimento Pampa de São Pedro, há mais de meio século rondando as águas pra transformar em canto pampeano, sobre um gateado pelo de sol.

Soldado Amaral, Regimento Fronteiriço De Santa Tecla.

“Permiso” para retirar.


   
                            foto de autor  desconhecido

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Amadrinhadora

Não é por falta de assunto ou motivação que estive sem escrever ao Diário do Andante, e sim, por tratá-lo como uma nova música. Tem que arrepiar o pelo, tirar a fome...  preciso arredar tudo e atender o corpo e a mente que se modificam de maneira inexplicável. Uns chamam de inspiração, eu prefiro chamar de necessidade ou impulso da palavra.
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Esta semana tive que remendar um potrerito, que arrendo na cercania de Bagé. Levei comigo minha filha de quase 6 anos. Era uma grotinha, onde o gado do campo lindeiro, cruzava no final da tardinha para fazer parador no alto da coxilha do meu potreiro. É lindo mesmo o parador, mas como pago pelo potreiro, para que possa apartar meus cavalos dos demais do estabelecimento, tive que remendar.
Chave de arame, trama e uns pedaços de fios, para a reforma, e o mais importante, a presença da pequena ajudante Maria Rita.
Coisa de pai. Mas, não é que a tipa combina com o campo,  feito a pitanga e a corticeira...?
Sua voz indagando tudo: - Que isso pai? Que flor é essa pai? Porque o gado passa aqui? Pra que isso pai? E lá íamos “de apesito”, tapeando mutuca e ela aos fiascos atacada por um lote de formigas pretas que mudaram a cor do All Star vermelho.        
Viu!!! O pai disse pra tu vir de bota.
Serviço feito. Encilhei duas éguas pra recorrermos toda a extensão gigantesca do meu potrerito de umas braças - que quase abraço de tão grande e de tanto que o quero bem.
Acomodei as estriveiras - pra Maria pata curta - e o tenisinho vermelho parecia um par de botas garrão de potro enfiados acima dos meus estrivos de bronze militar.
Ela sobre uma tordilha (orgulho do domador, um tal de “Amaral que se diz cantor”), eu fazendo caminhar com as garras uma zaininha safada que não gosta de folga... dei o cabresto da tordilha pra Maria, atei as rédeas e, um olho cuidava a zaina o outro a Maria...  falei – bem de mansinho - quando já havia agarrado o cabresto da tordilha pra que andasse ao meu lado: filha a égua do pai quer corcovear, e agora eu tô com o teu cabresto na minha mão... e tu que é minha amadrinhadora...
“- Aiiiii paizinho eu não gosto de ser amadrinhadoraaaa...“
Como diria o Aureliano:
Haaa!
Quando a sorte é mesquinha não hai feitiço que ajude!

Nos fumo naquela toada
nesta dança desgranida
onde um taura arrisca a vida
só pra honrar a patacoada.

Fui conversando co´as duas e, chamando a zaina no bico pra não assustar a minha amadrinhadora,  já não mais ajudante de alambrador...
Foi aí que veio a frase da tarde. Muito melhor que uma metida de cavalo pra aquebrantar um corcóveo!

“- Pai, eu nunca vi um pai tão gaúcho que nem tu!”



Perdoa mestre Aureliano, mas cabe uma adaptação.

Froxô e seguiu troteando.
Quebrada é o fim da zainita.
E eu, paradito, com o tino
A pensar desta maneira:
Por ti, a mais linda trigueira,
Tomo susto a vida inteira
No lombo do meu destino.

                                           foto Edu Rckes                                         edu.rickes@hotmail.com


Nota
Em negrito: fragmentos do poema Romance De Peão, de Aureliano de Figueiredo Pinto, do livro
Romances de Estância e Querência.