por Lisandro Amaral
As reações emocionais da perda, quando levadas a sério, podem ser
renovadoras. Uma espécie de limpeza automática e inevitável chega junto ou após
o luto do algo ou alguém perdido.
Nas correrias do inesquecível 32º. Rodeio da Vacaria, extraviei
chão vermelho adentro, meu mate companheiro de longa data:
1-
Mateira
em couro de modelo antigo. A
alça nova em couro cru.
Valor: foi do uso meu falecido pai e o acompanhou por 20 anos, somando
os 12 de sua partida chegamos ao valor de 32 anos de saudade;
2-
Cuia desenhada em lazer, rara e pra falar a verdade nunca vi igual.
Valor: Já estava morena das mãos e tinha sido um presente da amiga
Gladis.
Quando os “olhos
gordos de plantão” diziam: - Que cuia pra um presente Amaral! A resposta
imediata era: SIMMM GANHEI DE PRESENTE da Gladis.
3-
BOMBA de alpaca, de tanto tempo nem lembro se comprei ou me deram. É reta
e comprida que dava pra tomar mate sentado com a cuia no colo.
Valor: nunca entupia e aguardava ser bordada com nossa marca em ouro. “cozas
que pasan”
4-
Térmica adesivada com as marcas de músicos amigos e marcas que vestem este
cancioneiro: La Jineteada, Fagner Fotografia, Botas Ramos e outros...
Ela era imortal dos
golpes, quando por várias vezes buscou o suicídio se jogando da mesa ou de um balcão
alto.
Valor: uma vez por engano fiquei com a térmica do amigo Bruno Berta e
ele com a minha. Decidimos não destrocar para estarmos juntos, sempre um no
mate do outro. “Cozas del
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Hoje caminhando em Pelotas
onde o Carnaval se derrama pelas antigas calçadas e históricas construções, fui
chegando nas lojas e refazendo meu mate.
Térmica baixinha
destas que esguicham espumando o verde.
Obs.: vou tapar de adesivos;
Bomba de inox
simples, pois vou mandar fazer a do Alegrete com as iniciais em ouro; achei
duas cuias morenitas para que fiquem negras nas mãos dos amigos da estrada.
Mate novo
Brinda teu mate
perfeito
Porongo novo curtido
Erva verde defumada
E água quente chiada
Bem antes de ter
fervido
Renova teu mate amigo
E cuida o mate da estrada
Porongo limpo e algum jujo
Não deixa teu mate sujo
Seca com brasa em tropeada
Renovar o mate ás vezes
Não é por vaidade ou luxo
Renovarmos por perder...
É um convite a refazer
Artefatos de gaúcho
Quem achar meu mate velho
Cuide dele de verdade
Tem bomba e cuia morena
E a mateira me condena
A 100 anos de SAUDADE.