Attila Sá Siqueira - 1997
Payadoresco
Deus te abençoe payada
Neste costume do verso
Desde que é “gaucho” o universo
Na geografia formada.
Encilhei de madrugada
Com borborim do banhado...
Cantos recém acordados
E este galpão vai largando:
Peonada e sonho tiflando
Pra camperear lado a lado.
Queria cheirar a escrita
Do papel onde bordastes,
Do pampa aonde riscastes
A campereada infinita
Há uma ausência que grita
Quando te escuto Caetano
Marques Da Rocha em teu canto
Que chora vivo em meu pranto
As potreadas do Aureliano.
E o sol chega encabulado
Por trás da nuvem lobuna
Não sabe o quanto é fortuna
Neste setembro judiado
Já cruzamos pra este lado
Ficou pra trás o inverno
Fogo grande cinza e cerno
Renovações que se espera
Parece que a primavera
Nos torna vivos e eternos.
Payadoresco amanheço
Por tua culpa Caetano
Igual ao índio que irmano
E nem sei se então mereço
Saber do fim, reconheço
Que tem quem busca o regresso
Não me interessa o progresso
Payador, sim, diplomado
No borborim do banhado
Onde respira o teu verso.
Nasce enfim o dia pleno
Campeiros, pingos suados
Surgem largos descampados,
Evaporou o sereno
Indiada pelo moreno
Curando gado e consciência
Eu não sei se a penitência
Que recebi de outras vidas
Era curar as feridas
Mas te agradeço – querência.
Payadoresco amanheço
E vejo em ti primavera
Alegria nas taperas
Que tento e sim reconheço
Aos que partiram – un beso –
Molhado em aura charrua
Esta gesta que flutua
Em nosso sangue moldado
De algum verso inacabado
De um Jaime olhando pra lua.
Fogo grande cinza e cerno
Renovações que se espera
Parece que a primavera
Nos torna vivos e eternos.
24 de set 2009
Simplesmente, brilhante.
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