SERENO
Para Juçara Amaral Brião
O sereno no rancho: vestiu-me de paz...
e a saudade do mundo que anda a galope no lado de fora,
escorre nos dedos que choram segredos de luas e esporas...
Noite linda!
Quando olho meu mundo, nas coisas que tenho com jeito de estância:
umas bota-de-potro, um buçal pendurado
e, entre outras que vieram, me olha – apertado -
um arreio emalado - implorando um retorno...
Meu pingo relincha num pátio povoeiro.
Por certo ele sabe dos medos que trago
e por pingo ele entende as distâncias que temos...
e o sereno da noite : nos cobre de paz!
Já faz três dias que o filho do Juca
me trouxe um recado do João Feliciano.
que a tostada cabana, por maula e veiaca,
derruba sem pena o coitado do Inácio - não dá um laçaço -
e o zaino mestiço, mesquinho da cincha,
golpeou - por traiçoeiro - o Pedro – campeiro -
mas que nunca foi muito das manha dos potro.
Mas o resto vai lindo,
formando que é um gosto!
E alguns dos crioulos de marca de copa
já foram na tropa pros campos do posto.
Inté imagino meus pingos de rédea,
bailando um valseado no baile da tropa ...
e os pêlo gateado com tigre nas pata
empurrando a culatra com olhos de prata
e as marcas de copa.
Acalma este chasque do João Feliciano.
São três companheiros cumprindo uma doma
que deixei na vinda - pra estância da vida –
Três meses ilhado de pedra e saudade,
aqui na cidade onde teimam e nascem meus versos de campo.
Meus versos tropeiros falando em tropilha,
pateando coxilha e gritando mais alto
que a voz da saudade que mora no rancho...
Somente a guitarra traduz meu silêncio,
somente este canto molhado de alma
permite ter calma pras dores do mundo!
Minha mãe... novamente lutamos – nas voltas da vida –
novamente triunfamos nas guerras do mundo...
e vencemos humildes, buscando trincheira na luz do luar.
- Esperança é uma estrela que a fé nos acende -
e este cerro de pedras que aos poucos cruzamos,
é um livro já escrito onde o fim é bonito e tem braços abertos,
barba branca, afeto, oração, campo aberto e luz no final...
o sereno no rancho? Água benta no mas!
E a medalha que temos – mãe velha –
é um sorriso de buenas pras dores do mundo,
um chasque de espera pro João Feliciano.
Dizendo pro Inácio que aguente outros golpes,
que falta mui pouco na ilha de pedra.
Garanto que enfreno meus pingo no outono!
Garanto que entrego do agrado do dono!
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A mãe por ser alma e estrela brilhante
taureou um sorriso pras dores do mundo,
voltou a ser vida no rancho de paz,
esperança acesa aos olhos da fé.
E lendo as palavras do livro já escrito,
com braços abertos pra um mundo bonito
assim se fez luz quando quis descansar.
Todo o sereno no rancho, toda a pureza no olhar;
recebendo o direito de morrer... pela vida,
recebendo a certeza... da guerra vencida
vestiu a medalha da luz do luar.
E assim, o sereno, no rancho bonito,
molhando uma folha de um livro já escrito
escorreu pela quincha e deu benção ao dia
pra depois ser poesia e também descansar...
- o sereno da vida cobriu-me de paz -
23 outubro de 2003
Sempre sutil. Sempre encantador! Parabéns, sempre.
ResponderExcluirQue tu sejas sempre esta pessoa iluminada pelos caminhos da vida terrena, tenhas sempre teus ideais de cultura e de espiritualidade firmes nas golpeadas do andante que tu és, para que possamos sempre desfrutar de teu diário, teus pensamentos e de momentos impares no carteado do andejar.
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