Uma Embarcação Chamada Pelota
Sabe o que é pelota? No sentido a ser usado nesta postagem, poderia ser definida como uma embarcação improvisada, feita geralmente de couro de boi. Quem a descreve com mais detalhes é Saint-Hilaire, que precisou servir-se de uma ao passar de uma margem a outra do rio Butuí. Ele é quem conta, com uma pitada de humor, a respeito da rabugice habitual:Um fato interessante é que Debret também deixou um registro desse tipo de embarcação, não em palavras, mas em uma bela imagem, que pode ser vista acima.
“ Ao nascer do dia, começamos a descarregar a carroça, e minhas bagagens passaram para uma piroga improvisada, tão em uso na Capitania de Montevidéu e Rio Grande, onde não há ponte.
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É simplesmente um barco de couro cru ligado nas quatro pontas e que, desse modo...
... enche-se a pelota de objetos e, ata-se nela uma corda ou tira de couro; um homem, a nado, prende a corda entre os dentes e faz passar assim a piroga. Para facilitar o trabalho meus homens estenderam uma corda de um lado a outro do rio, com a intenção de ajuda-los na travessia a nado.
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Travessia em Arroio Pelotas marcará aniversário de 200 anos da cidade
Quem vai por o peito n´água
Neste inverno onde me agravo?
Quem fará a vez do escravo
Na inclemência do tirano?
Tenho sugestões paisano:
Uns pra dentro outros pra fora
Certamente irão embora
Congelados rio a baixo
Pelotear? Coisa pra macho
Quem não é - já se apavora.
Boia de cuia nos braço
Reforçados de heroísmo
Poesia pro nativismo
Que se olvida desta raça
Negro irmão meio a fumaça
Desta gente que não rema
Pelotear foi teu dilema
Na escuridão da charqueada
E nas costas da negrada
Gente grande nunca rema
Voto em muitos pra puxar
Outros tantos pro passeio
Gente longe dos arreio
Que desgastaram riquezas
Gente fina com certeza
Que ostentaram pratarias
E no inverno da poesia
Vão botar o peito n´água
E relembrar muita mágoa
Que a pelota nos trazia.
Não me levem por Zumbi
No meu Palmar de improviso
Não saí do escravagismo
Na palavra - acorrentado
Sou mais um negro soldado
Que ficou sem um tesouro
E este barquinho de couro
Que venceu água e distância
Deve descansar na ânsia
Dos negros que valem ouro.
Bueno então boa façanha
Até mais um centenário
Onde seremos lendários
Puxadores de pelota
Vou parar com esta lorota
Por ocioso é que eu caminho
Meu verso não tem espinho
É só uma dor que ainda chora
Por negro que eu vou embora
Quem quiser puxe o barquinho.
SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul
Brasília: Senado Federal, 2002, p. 327
(**) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2
Paris: Firmin Didot Frères, 1835
(O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi levemente editada para facilitar a visualização.)
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