"Sí, la tierra señala a sus elegidos”
(Atahualpa Yupanqui)
Refletindo diariamente os passos do universo criado ao redor e no interior da música nativa, ou seja, quando digo nativa, nascida neste pedaço sul de mundo ao qual pertenço e onde me encontro muitas vezes em debate, com artistas que atuam, também, no mesmo cenário e que realmente possuem um valor significativo dentro do contexto, percebo que as preocupações são as mesmas, guardadas as proporções do foco de cada um.
Durante mais uma edição da Sapecada da Canção de Lages- SC, ficamos hospedados no importante templo de reverência ao tropeirismo brasileiro; refiro-me a popular e hospitaleira Fazenda do Barreiro, do carismático Tio Lélo, hoje um emblema colado sobre o peito daquele maravilhoso e abençoado lugar. Numa guitarreada, em formato de conferência galponeira, conversamos muito sobre rumos e detalhes mais importantes referentes ao mundo artístico ao qual frequentamos e, obviamente, assumimos parte das consequências, sendo elas positivas ou não.
Tomados pelo efeito emocionante do repertório, que era escolhido por cada um que da memória tirava, como uma lebre do sombreiro, foram surgindo: uma canção importante, um poema sensível, um conto reflexivo, um causo galponeiro e na maioria cômico, ou, apenas um comentário admirável de um participante que se manifestava apenas com o dom de ouvir e sentia-se a vontade para deixar sua impressão.
Fomos madrugada adentro, até chegarmos à conclusão de que, historicamente, a presença da arte musicada nos galpões, independe de resultados dos Concursos poético/musicais que atuamos, e sim, de terem marcado na memória de seus repetidores, que assimilando seu conteúdo - introspectivo ou não - seguem pelos palcos montados à beira dos fogões e ecoando o hino nativista, no real sentido de amor ao canto da terra.
Eram tantos os artistas do cenário gauchesco que ofereceram aos ouvidos da alma da madrugada sua arte, em troca apenas do calor que lhes devolvia a sensação de sentirem-se, ali, dignos tropeiros da poesia regional do sul do Brasil.
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Canto terra, pampa e rio com a campeira vivência
de filho desta querência feita a casco de cavalo
Donde os buenos e os malos vaqueanos de muitas guerras
Banharam campos e serras, no sangue de mil combates
Sem saber que nesse embate foi puro amor pela terra.
São passados que me orgulho de cantar com a alma aberta
E hão de ser rimas bem certas e as cordas bem afinadas
E a garganta bem afiada e os acordes bem certeiros
Que assim qualquer brasileiro ou se escuta algum paisano
Verá que é sul americano o canto de um missioneiro.
Verão que as raças se uniram num potencial varonil
Pra levantar o Brasil: índios, gringos e mestiços
E sem medir os sacrifícios, sem sede e sem sentir sono
Como se a terra seu trono, lutando com força e fé
Igual que gritou Sepé: - A nossa terra tem dono!
Evoco ao santo cacique, o imortal Tiaraju
Que deu pra esse Xirú a sublime inspiração
De lutar por esse chão no mais sério patriotismo
Da lança para o lirismo, da tradição ao presente
Da incertidão ao consciente pra o puro brasileirismo.
E se não entendem meu canto neste País muito grande
Hei de cantar o Rio Grande, pedaço de continente
E se cantar o que a alma sente é falta pra um pecador
O patrão Nosso Senhor que perdoe esse gaudério:
Vou levar pro cemitério este destino de cantor!
de filho desta querência feita a casco de cavalo
Donde os buenos e os malos vaqueanos de muitas guerras
Banharam campos e serras, no sangue de mil combates
Sem saber que nesse embate foi puro amor pela terra.
São passados que me orgulho de cantar com a alma aberta
E hão de ser rimas bem certas e as cordas bem afinadas
E a garganta bem afiada e os acordes bem certeiros
Que assim qualquer brasileiro ou se escuta algum paisano
Verá que é sul americano o canto de um missioneiro.
Verão que as raças se uniram num potencial varonil
Pra levantar o Brasil: índios, gringos e mestiços
E sem medir os sacrifícios, sem sede e sem sentir sono
Como se a terra seu trono, lutando com força e fé
Igual que gritou Sepé: - A nossa terra tem dono!
Evoco ao santo cacique, o imortal Tiaraju
Que deu pra esse Xirú a sublime inspiração
De lutar por esse chão no mais sério patriotismo
Da lança para o lirismo, da tradição ao presente
Da incertidão ao consciente pra o puro brasileirismo.
E se não entendem meu canto neste País muito grande
Hei de cantar o Rio Grande, pedaço de continente
E se cantar o que a alma sente é falta pra um pecador
O patrão Nosso Senhor que perdoe esse gaudério:
Vou levar pro cemitério este destino de cantor!
Estiveram conosco os espíritos fogoneiros de tantos outros que habitaram a terra material antes destes versos do Bugre Noel Guarany. Estes que alumbraram noites, quando o objetivo real de comunhão entre cantadores era muito mais elevado e desinteressado pelo retorno, na maioria das vezes, equivocado do artista atual.
Sobreviveremos à falta de recursos para uma qualidade de vida que nos possa trazer o conforto, quando compreendermos que, provavelmente nossos corpos não nasceram, desta vez, para o colchão de plumas, mas sim, para o pelego estendido no colo da noite que nos ouve e nos convida...
Lembrei-me de uns versos:
Que dos palcos saiam cantos
Que entrem pelos galpões
Trazendo alento e consciência
Pra campeiros e patrões
Entrem nas rodas de mate
Pelas charlas dos fogões.
(Canto de Apelo de Eron Vaz Mattos)
O meu Cantar galponeiro
Traz a marca da querência
E a prova de uma existência
Cevada no mate amargo
E quem aceita o encargo
De campeiro cantador
Sabe que é fiador
Da memória do seu pago.
(Cantar Galponeiro de Oacy Rosenhaim)
Que, eu e meus companheiros, possamos ter oportunidades de refletirmos sempre a caminhada na estrada turva da sobrevivência agarrada ao canto “Del viento" e da terra. Que sigam os poemas místicos e altamente evoluídos feito um dos recitados na aura da noite, que dizia:
Eu sou a maior pergunta... sou semente que chegou no tempo... alimento um elo cíclico telúrico da raça... RAÇADOR, sou prosseguimento de meus avós, para que meus filhos sejam entre mim e meus netos... [...]
E vagando na querência... assinou Glênio Portela Fagundes, no poema Cismando, que temos a obrigação eterna de repetir nos momentos elevados de semeadura e colheita.
Registrei, no meu diário de andante, que andará muito mais além de si, para memorizar momentos importantes e repassá-los, aqui, aos que necessitam saber que o ideal do artista nativo de um pedaço de mundo como este que existe em nós, encontra-se algumas vezes e reflete ao pé do fogo o Destino Del Canto.
Ninguna fuerza abatirá tus sueños,
porque ellos se nutren con su propia luz.
Se alimentan de su propia pasión.
Renacen cada día, para ser.
Sí, la tierra señala a sus elegidos.
El alma de la tierra, como una sombra, sigue a los seres
indicados para traducirla en la esperanza, en la pena,
en la soledad.
Si tú eres el elegido, si has sentido el reclamo de la tierra,
si comprendes su sombra, te espera una tremenda responsabilidad.
Puede perseguirte la adversidad, aquejarte el mal físico,
empobrecerte el medio, desconocerte el mundo,
pueden burlarse y negarte los otros,
pero es inútil, nada apagará la lumbre de tu antorcha,
porque no es sólo tuya.
Es de la tierra, que te ha señalado.
Y te ha señalado para tu sacrificio, no para tu vanidad.
La luz que alumbra el corazón del artista
es una lámpara milagrosa que el pueblo usa
para encontrar la belleza en el camino,
la soledad, el miedo, el amor y la muerte.
Si tú no crees en tu pueblo, si no amas, ni esperas,
ni sufres, ni gozas con tu pueblo,
no alcanzarás a traducirlo nunca.
Escribirás, acaso, tu drama de hombre huraño,
solo sin soledad...
Cantarás tu extravío lejos de la grey, pero tu grito
será un grito solamente tuyo, que nadie podrá ya entender.
Sí, la tierra señala a sus elegidos.
Y al llegar el final, tendrán su premio, nadie los nombrará,
serán lo "anónimo",
Pero ninguna tumba guardará su canto...
atahualpa yupanqui (Destino Del Canto)
Aconselho, do mesmo autor o Livro "El Canto Del Viento"
Que texto incrível. Bem escrito e transbordante de emoção viva... alimento para qualquer alma pensativa. Gostei muito. Tu tens uma rara qualidade: sabes ser a verdade viva daquilo que dizes ser. Fico emocionada por ti. Beijo grande!
ResponderExcluirLindo registro. Essa madrugada certamente continua viva, fora do tempo, no coração do tempo, a respirar nas entrelinhas deste texto...
ResponderExcluir"Perto da terra, nestes campos...
ResponderExcluirTropas vicejam pra um sustento tão comum
De pouco adianta olhar o trigo florescer
Sem perceber que ele é o pão de cada um
Assim é a terra, sem nos cobrar...
Até o dia que nos planta qual semente
Quem foi da terra, volta pra ela
Pra desejar ser planta boa ou semente
A terra dá, a gente tira...
Assim é o ciclo do viver que não se esquece
Por soberana, sabe bem dos seus sentidos
Só mesmo ela pra cobrar o que merece"
(Memorial à terra - Gujo Teixeira)