sexta-feira, 6 de julho de 2012

Uma embarcação chamada PELOTA

Embarcação feita de couro de boi, de acordo com Debret



Uma Embarcação Chamada Pelota
Sabe o que é pelota? No sentido a ser usado nesta postagem, poderia ser definida como uma embarcação improvisada, feita geralmente de couro de boi. Quem a descreve com mais detalhes é Saint-Hilaire, que precisou servir-se de uma ao passar de uma margem a outra do rio Butuí. Ele é quem conta, com uma pitada de humor, a respeito da rabugice habitual:Um fato interessante é que Debret também deixou um registro desse tipo de embarcação, não em palavras, mas em uma bela imagem, que pode ser vista acima.

“ Ao nascer do dia, começamos a descarregar a carroça, e minhas bagagens passaram para uma piroga improvisada, tão em uso na Capitania de Montevidéu e Rio Grande, onde não há ponte.
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É simplesmente um barco de couro cru ligado nas quatro pontas e que, desse modo... 
... enche-se a pelota de objetos e, ata-se nela uma corda ou tira de couro; um homem, a nado, prende a corda entre os dentes e faz passar assim a piroga. Para facilitar o trabalho meus homens estenderam uma corda de um lado a outro do rio, com a intenção de ajuda-los na travessia a nado.

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Travessia em Arroio Pelotas marcará aniversário de 200 anos da cidade


 

 

Quem vai por o peito n´água

Neste inverno onde me agravo?

Quem fará a vez do escravo

Na inclemência do tirano?

Tenho sugestões paisano:

Uns pra dentro outros pra fora

Certamente irão embora

Congelados rio a baixo

Pelotear? Coisa pra macho

Quem não é  - já se apavora.


 

Boia de cuia nos braço

Reforçados de heroísmo

Poesia pro nativismo

Que se olvida desta raça

Negro irmão meio a fumaça

Desta gente que não rema

Pelotear foi teu dilema

Na escuridão da charqueada

E nas costas da negrada

Gente grande nunca rema

 

Voto em muitos pra puxar

Outros tantos pro passeio

Gente longe dos arreio

Que desgastaram riquezas

Gente fina com certeza

Que ostentaram pratarias

E no inverno da poesia

Vão  botar o peito n´água

E relembrar muita mágoa

Que a pelota nos trazia.

 

Não me levem por Zumbi

No meu Palmar de improviso

Não saí do escravagismo

Na palavra -  acorrentado

Sou mais um negro soldado

Que ficou sem um tesouro

E este barquinho de couro

Que venceu água e distância

Deve descansar na ânsia

Dos negros que valem ouro.


 


Bueno então boa façanha

Até mais um centenário

Onde seremos lendários

Puxadores de pelota

Vou parar com esta lorota

Por ocioso é que eu caminho

Meu verso não tem espinho

É só uma dor que ainda chora

Por negro que eu vou embora

Quem quiser puxe o barquinho.

 


SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul
Brasília: Senado Federal, 2002, p. 327
(**) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 2
Paris: Firmin Didot Frères, 1835
(O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi levemente editada para facilitar a visualização.)