domingo, 30 de outubro de 2011

o sonho Blanco


Quando a luz me empurra sinto como um colo materno sua sabedoria. Começo o voo livre dentro da alma que me faz caminhar sem tocar o chão...
Apenas lendo e divulgando a força da terra, sou a luz da amizade que vem e vai dos meus grandes amigos.

Para a busca do crescimento.

Deus me de tempo...

Que meus amigos não percam tempo.


Divido com todos que estiveram comovidos com a triste escolha de nosso amigo João Blanco, nesse dia 26. Algo que jamais, neste plano, será esclarecido. Porém, a força de orações, completamos nosso apoio fundamental aos familiares e amigos deste inocente. Vítima da fraqueza dos humanos que, enfermos, agem no impulso rápido de abandonar a luta e mudar o plano da guerra.

Após ter acompanhado meus irmãos da família Blanco nos diversos detalhes que envolvem este momento de ritual de despedida, no final da tarde, assumi o cuidado de meu filho de um ano e quatro meses. Ficaria com ele até que adormecesse e após o entregaria aos cuidados de sua mãe, e retornaria para continuar o auxílio. A caminho de entregá-lo, desisti... e fiquei com ele, para que fosse meu companheiro no quase que impossível descanso daquele dia de tristes emoções.

Ao meu lado dormia um anjo, o ser mais próximo de Deus que estava mais Perto de mim. A insônia dominava-me e imagens fortes do dia agitavam-me, negando o descanso que precisava. Foi quando dei a mão ao meu pequenino anjo e rezando muito forte recebi sua energia imensa e indescritível...

O sonho passou a ser lindo... Nosso amigo que resolvera partir, sem despedida, estava lá. Usava uma larga bata branca, tipo as dos índios catequisados; caminhava num campo de pastos altos e adornado por diversas flores amarelas.

João caminhava com o mesmo, ou, melhor olhar que lhe era característico quando entre nós. Em passos largos levava o costumeiro mate e, olhando pro chão exalava a felicidade de quem vai ao reencontro de alguém que o aguardava. Não pude ver quem era, mas sei que o faria um bem imenso e o acolheria celestial.

O anjo retornou a casa do pai maior...
Sem pedir licença, nos deixou tristonhos
O anjo - agora perdoado -  está mais que vivo
Pois vi que estava mais feliz quando o avistei no sonho...


Para a busca do crescimento.

Deus me de tempo...

Que meus amigos não percam tempo.



Numa rede de orações, mais do que necessárias, vamos compartilhar a luz. 
 Após a leitura eu quero sua prece.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A luz do homem


                                  Cartola e dona Zica 



Eu canto apenas o barro que cai em pó das taperas... 

         

          Percebi que tenho nas veias o mesmo sangue dos meus cavalos e que respiro o ar em torno da mulher que muda o meu jeito de respirar e tenta se alimentar das minhas palavras...

          Essa mulher terá o direito de dormir sobre o meu canto. A mulher que não entender a poesia do andante não será mulher de estar... Vai respirar o oxigênio dos mortais. Não terá o direito à imortalidade da poesia dedicada à musa do andante, que, quando sangra, limpa a ferida e estanca no gole da sanga, entrando liquidamente pela boca dos animais e morando, enfim, na alma dos que os amam...

Voltei aos jardins com a certeza de que ia chorar... 

Cartola estava lá.  Tinha a aura dos que poetizaram ainda mais o amor sem regras... Tinha o pó das construções no corpo e a sutileza do imortal cantador do desejo; na alma, musicava o vento com a boca carioca. Rude poeta sem regras.

Sem normas, sem formas.

E as rosas? E os jasmins? E as damas-da-noite? Esses exalaram o perfume roubado das madrugadas boêmias...

Eu estava lá, vi o seu peito vazio... E tinha o pó das taperas que canto.

Minhas canções trazem restos das noites do Rio vestidas de frio e emponchadas de Sul brasileiro e Norte uruguayo.

Senti falta de mim. Vi na pele negra do poeta das rosas meu jeito afro de bater no peito o samba da liberdade e a milonga do payador solitário.

O mundo é um moinho ou roda de carreta sem graxa? Para que seja ouvido o repetido lamento de quem anda...

Ouça-me bem, amor; preste atenção, querida: à beira do abismo, o poeta escreve que ainda é cedo. Ri a morte da verdade numa canção que renderá o doce sabor da eternidade.

Eu canto apenas o barro!
E a Alvorada?

Lá no morro, que beleza!
Ninguém chora, não há tristeza,
ninguém sente dissabor.



Vocês estão num bom olhar  maternamente
E são em mim a referência da poesia!
Estão em mim bem mais que a luz que vem do sol
Irmãs e mães - avós - amigas do meu dia...

Minhas mulheres...  umas foram – sem partir –
Outras ficam no sorriso do meu dia...
E algumas vão saber de mim quando eu cantar
E me encontrar na referência da poesia.

Há nas mulheres algo mais que Deus criou,
Depois que deu por nome a flor e a poesia,
E aqui estão, para enfeitar a luz do homem,
Ao adornarem sendo a luz do nosso dia.

Minhas mulheres umas ficam por querer:
Saber de mim, cuidar de mim – avós - irmãs –
E uma vem para imitar o por de sol
Depois se vai, no corpo lento das manhãs...

Minha canção tem o teu corpo e teu perfume
Por ser de ti a luz mais clara no meu dia!
Avó, irmã, amiga e mãe - por bem querer -
Eu vou viver para  escrever tua poesia...




http://www.youtube.com/watch?v=lEHA2F5cmok
Alvorada para quem não conhece Cartola.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Todos os Dias de Sol

                                                                                                              foto autor desconhecido

Certamente os que semearam a bondade - estando aqui -
colherão dias de sol nos campos do prosseguir...
Ouço a música inocente nos lábios doces das águas
e te vejo mãe divina, voando em paz que ilumina os nossos sonhos de sol.

Este menino te vê, te sente em boa saudade;
guarda os poemas da bondade na agenda do coração;
sabe que as frases escritas, são as mensagens bonitas no colo da gratidão.

Agora fechei meus olhos para sonhar acordado.
Sou peregrino, e o caminho, que escrevo nunca é sozinho,
já tem mais flores que espinhos, benzido em luz de arrebol...

Saibas - mãe anjo - que eu canto

pois ainda sinto teu manto em cada dia de sol.






domingo, 9 de outubro de 2011

Camino Cantando

                                             Eliseu Leal Foto Edu Ricks


Tenho compromissos musicais que me retiram da querência, numa caminhada que escreve e, ao mesmo tempo, forma uma necessidade de retorno o mais breve possível. Quando chego a este estado de espirito enraizado, imediatamente habita-me os olhos a imaginação da forte cena de um potro em liberdade quando rebenta a soga ou, apartado de seu lote, galopeia olhando pra trás.
Na correria destes compromissos, sigo embuçalado por programações a serem cumpridas. Consequentemente, escrevo e lasco o fósforo neste combustível imediato chamado desejo de retorno à querência.
Há uns dias, tomando mate, noticiava-me algo importante Eliseu Leal - fronteiriço domador -  que hoje, serve de peão numa pousada onde moro, junto aos meus cavalos, guitarra, “un perro ovejero” e outras “coisas pequenas para o mundo, pero grandes para mim” como disse Elias Regules no poema Mi Tapera.

Disse ele, Eliseu: – Don Lisandro, que vá hacer neste final de semana? Vá cantar ou andará por hay no más?

– Que tiene para nosotros don Eliseu? Una  yerra? Respondi imediatamente como potro querendo partir a soga e galopear rumo a Serrillhada – querência de Eliseu.

– Mi padre vá estar de cumpleaños y mi Hermano Anélio vá subir una yegua vellaca por ele, y vamos comer un assado, coza simples no más, por el viejo.

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Comecei este texto sem nunca parar de pensar que hoje estou rumando para um ensaio musical na cidade de Gramado, onde na quinta- feira, dia 5 estaremos montando um projeto que fui convidado para atuar cantando.

Todos os momentos em que subo ao palco, parte de mim está ali, outra parte – provavelmente a maior –  está vagando pelos cenários fronteiriços de minha gente profundamente adornada de inocência rural.

Cantarei al mundo criollo
Por quem  me llama y yo ando...
“el arbol no tiene pena”
Camina siempre penando!
Vuelvo a tu yerra Oriental
E diga que soy Leal
Porque camino cantando.



Lisandro Amaral

 Estrada - 04 de outubro de 2011





segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Décimas para quem sou





Nesta leitura descobres
e um dia, em fim, saberás:
que fui franqueza vorás
também mentira mais nobre.
Sou rico, embora tão pobre,
quando a pergunta é fraqueza
imagino que a beleza,
que transformei frente ao dia,
faça da noite poesia...
- Baú das minhas riquezas -


Ouço a cordeona em som nobre...
com botões de estrela guia!
Voz, solidão, nostalgia
que a noite sempre descobre...
sou rico... e sempre mais pobre
quando a pergunta é riqueza
imagino a natureza
se transformando em canção
e faço da escuridão
baú das minhas certezas.

Beijo o gosto azul profundo
nos lábios da madrugada...
Numa noite enluarada
sou maior que a dor do mundo,
sou terra em sonho fecundo
quando a pergunta é - pureza -
imagino o pão na mesa,
a água límpida ao  pobre
se a franqueza é a cor mais nobre
Cantarei sempre a franqueza!

Adormeci rima arisca...
cordeona, alma y guitarra;
riqueza franca que agarra
a natureza mais rica.
Pobreza - verso que fica -
quando a resposta é nobreza...
Ilusão e correnteza
transformam sangue e emoção
ilumino a escuridão
e ponho a vida na mesa...

...quando a pergunta é fraqueza
imagino que a beleza,
que transformei frente ao dia,
faça da noite poesia...
- Baú das minhas riquezas -

Lisandro Amaral
19 de julho de 2010.