segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Quando um rancho abre sua porta


Quando um rancho abre sua porta
Pra receber um andante,
Abre-se nela o bastante
Para ofertar paz sublime...
Fica uma luz que hoje imprime:
Querência e gesto de altar.
Fica o abraço mais forte
Um ponto mostrando o norte
E um gosto bom de voltar.


Quando uma humilde família
Abraça a vida de andantes,
Volta pra ela o bastante
Pra renovar o sublime
E toda a luz que ela imprime
É mais querência que nasce!
Peço então que a luz te abrace
Bom rincão de Cacimbinha
Pois esta querência é minha
E me pediu que eu voltasse.


Obrigado Pinheiro Machado por um memorável final de semana na vida dos andantes.



Fotos Fernanda Botelho Vieira Polino

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Sereno


 

 

SERENO

Para Juçara Amaral Brião

O sereno no rancho:   vestiu-me de paz...

e a saudade do mundo que anda a galope no lado de fora,­

escorre nos dedos que choram segredos  de luas e esporas...

Noite  linda!
Quando olho meu mundo, nas coisas que tenho  com jeito  de estância:
umas bota-de-potro, um buçal pendurado
e, entre outras que vieram,  me olha – apertado -
um arreio emalado - implorando um retorno...

Meu pingo relincha num pátio povoeiro.
Por certo ele sabe dos medos que trago
e por pingo ele entende as distâncias que temos...

e o sereno da noite :  nos cobre  de paz!

Já faz três dias que o filho do  Juca
me trouxe um  recado do João Feliciano.
que a tostada cabana, por maula e veiaca,
derruba sem pena o coitado do Inácio  - não dá um laçaço -
 e  o zaino mestiço, mesquinho da cincha,
golpeou - por traiçoeiro -  o Pedro – campeiro -
mas que nunca foi muito das manha dos potro.

Mas o resto vai lindo,
formando  que é um gosto!
E  alguns dos crioulos de marca de copa
já foram na tropa pros campos do posto.

Inté imagino meus pingos de rédea,
bailando um valseado no baile da tropa ...
e os  pêlo gateado com tigre nas  pata
empurrando a culatra  com olhos de prata
e as marcas de copa.

Acalma este chasque  do João Feliciano.
São três companheiros cumprindo uma doma

que deixei na vinda  - pra estância da vida –


Três meses ilhado de pedra e saudade,
aqui na cidade onde teimam e nascem meus versos  de campo.
Meus versos tropeiros falando em tropilha,
pateando coxilha e gritando mais alto
que a voz da saudade que mora no rancho...

Somente a guitarra traduz meu silêncio,
somente este canto molhado de alma
permite ter calma pras dores do mundo!


Minha mãe...  novamente lutamos – nas voltas da vida
novamente triunfamos nas guerras do mundo...
e vencemos humildes, buscando trincheira na luz do luar.

- Esperança é uma estrela que a fé nos acende -
e este cerro de pedras que aos poucos cruzamos,
é um livro já escrito onde o fim é bonito e tem braços abertos, 
barba branca, afeto, oração, campo aberto e luz no final...

o sereno no rancho?  Água benta no mas!

E a medalha que temos – mãe velha –
é um sorriso de buenas  pras dores do mundo,
um chasque de espera pro João Feliciano.
Dizendo pro Inácio que aguente outros golpes,
que falta mui pouco na ilha de pedra.

Garanto que enfreno meus pingo no outono!
Garanto que entrego do agrado do dono!

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A mãe por ser alma e estrela brilhante

taureou um sorriso pras dores do mundo,
voltou a ser vida no rancho de paz,
esperança acesa aos olhos da fé.
E lendo as palavras do livro já escrito,
com braços abertos pra um mundo bonito
assim se fez luz  quando quis descansar.

Todo o sereno no rancho,  toda a pureza no olhar;
recebendo o direito de morrer...  pela vida,
recebendo a certeza...    da guerra vencida
vestiu a medalha    da luz do luar. 

E assim,  o sereno, no rancho bonito,
molhando uma folha de um livro já escrito
escorreu pela quincha e deu benção ao dia
pra depois ser poesia e também descansar...


                 - o sereno da vida cobriu-me de paz  -


23 outubro de 2003


 
  

domingo, 8 de janeiro de 2012

Um amigo em Preto e Branco









 

Um Amigo Em Preto E Branco

 


Um dia destes, li algo de uma das mais importantes pessoas que já cruzaram na minha vida. Dizia que meu ciclo de amigos era realmente especial. E que deveria comemorar diariamente essa natural seleção de pessoas que vibram de maneira positiva, e não precisam se adaptar aos meus defeitos, simplesmente, toleram e ajudam nas correções de maneira inconsciente.
Estive refletindo sobre cada um deles (os amigos) e encontrei: poetas, desenhistas, melodistas, fotógrafos, domadores, médicos, advogados, etc. etc. etc...     Cada qual, dentro de uma redoma, protegidos de minhas inúmeras imperfeições.  Ali, nos seus postos incansáveis de AMIGOS, chegam, quase que diariamente. E eu identifico que não os amo como deveria.  Suas presenças atingem a normalidade do vício, e acostumado com eles, mal ou bem comparando, como ao cavalo que encilho e o cusco que me faz festa, não os ofereço o carinho especial ao amanhecer.
Até onde pode ir o egoísmo e o despreparo do ser humano? Até quando poderemos levar a vida cega, sem aprender o braile da pele e do coração?
O mais recente dos meus amigos especiais, chegou com uma carga artística que não cabe em seu corpo forte de homem de raça. Sua humildade ensina e chega envergonhar meu ego de artista. Sua poesia despreocupada de aplauso, seu traço crioulo como o chiripá, me tapa e me alivia a solidão da verdade escrita quando ele diz:

Sou filho da ‘flor’ do couro
Depois das bênçãos do sal;
Que troca a forma dos pelos
Pela razão do carnal.
Voltei pras horas do campo
Noutro sentido ou valor;
Livrando o ‘estranho’ da sorte,
Tirando os ‘males’ da dor.

Em preto e branco, sangra o vermelho dos lenços... em grafite, nanquim, pirógrafo ou carvão, sua vida vai marcando - em silêncio de papel ou couro - o infinito da arte.

“ Voltaste a forma do barro
De outra vida que viveu...
Num sinal santo na prece
Que finalmente volveu;
Que habita junto ao silêncio
Os bons adentros contidos,
Antes palavra dos matos
Hoje,  idioma renascido.
                                        (adaptação de Indiático de Adriano Silva Alves)


Sonho alcançar-te  Adriano Silva Alves... Genuíno Vivo, meu irmão da cor da noite.
Ainda não é tarde para interpretar tua postura maiúscula e rever meu rumo.

Hoje o João amanheceu cantando
Talvez pra o sol, que despertou o pago;
Tinha esperanças, que colheu da chuva,
          Com seus mistérios de paciência e barro...            
                                                                 (A.Silva Alves)

Ver meus versos saírem da boca de tua alma, agora nos palcos ao lado de minha família mais Curandeira e cada vez mais em Silêncio, é chegar mais perto de Deus e melhor acompanhado.

O teu mundo em preto e branco
irá colorir a vida...
De muita alma ferida
que necessita do tranco.
Pois galopeando,  o egoísta,
Vive essa vida de artista;
Cai muitas vezes na lista
Do aplauso, da luz, do nome.
E esquece que somos nada
E ao palco da madrugada
A nossa alma – tem fome.

Não sabe que o holofote
Não ensina a andar a trote
Quem gosta da correria.

Ensina irmão, a magia
Do teu olhar – ainda escravo –
Que traz a marca dos cravos
Dos companheiros de Cristo.

Por certo, roubastes antes
Os verdadeiros instantes
Da humildade da terra
E hoje chegas “bandido”
Matando tanta saudade
Dos teus pequenos amigos.

Deixa eu andar ao teu lado,
Corrermos juntos perigo?
Quem sabe eu cresça e aprenda
Que a alma branca é uma renda?
E sempre estando ao teu lado,
Eu me promova a soldado
Da caridade divina...

E aprenda que em Preto e Branco
O mundo caminha ao tranco
E amigo mesmo, é o que ENSINA.




Vive em ti  um bom guri de pés no chão;
Num coração, lágrima pura, nostalgia,
Magia branca nas feições, no canto,
Sincero pranto a derramar poesia.

                                              A derramar poesia.”


                                                           (adaptação de Indiático de A.Silva Alves)

  

Acompanhem Adriano Silva Alves pelo blog: