quarta-feira, 11 de maio de 2011

IMAGEM

                                                            foto Alexandre Teixeira

No dia 14, deste mês, estarei na cidade de Santa Cruz do Sul, a convite da Faculdade Dom Alberto, para uma oficina poética...
            O convite foi feito há meses, e mesmo assim, ainda me assusto com a idéia.
Como pode um "verseador" crioulo explicar para um público, na maioria composto por estudantes e possivelmente já graduados e conceituados profissionais de diversas áreas?
            Bueno... a naturalidade e a coragem sempre foram a arma principal quando me coloco - guerreiro das palavras - e delas tiro meu sustento e alívio, mesmo que às vezes doam no tema – transformado em canto popular.
            A poesia, para mim, sempre foi e será a imagem transmitida ao papel, ou à mente, no caso dos tantos poetas genuínos que nem mesmo o nome aprenderam a assinar e imprimem nos palcos galponeros a poesia dos fogões, infelizmente em fase terminal, desde a prevista extinção do universo imenso e puro que nutriu a imaginação de quem povoou carreiradas, marcações e o diário poético do gaúcho campo a fora.
Voam por aí, com asas de vento, aceitáveis versos de mentes inteligentes que dominam a palavra e as acomodam dentro de conhecidos formatos de versos, que divulgados aos quatro ventos, com o garbo da vaidade compreensível... os intitulam POETAS. Mas... o que é realmente poesia?
A tarde recolhe o manto,
- carqueja e caraguatá,
Na corticeira um sabiá
Floreia o último canto!
Alargando o gargarejo
Da sanga que se desmancha,
 Há um eco pedindo cancha,
No primitivo falquejo;
A lua nasce num beijo
Prateando o lombo do cerro
E um grilo acorda o cincerro
Do meu retiro de andejo!

Jayme Caetano Braun, intitulou-se: payador, não ostentou o perseguido título de poeta.   E acima, num fragmento do poema Paisagens Perdidas, está a poesia que refiro ter sido colhida na imagem que nutre as necessidades dos leitores, que sedentos amanhecem e mergulham - madrugada a dentro -  ultrapassando barreiras de tempo e lugar, pois a poesia é o portal de quem não se contenta em habitar somente este mundo frio das palavras inteligentes, vindas de mentes brilhantes, porém sem a metafórica alquimia das geadas...
Pero aún tengo la pasión, el ardor, el ánsia de cantar...
Bebo la luz, los besos y el vino... por los que no están...
Y alzo este Grillo loco de amor por uma estrella fugaz.

Osíris Rodriguez Castillos, acima citado em seu inédito Tiempo de Jacarandá, e por ter impresso, ao meu ver e de muitos, a poesia "del gaucho" em seu esplendor de existência libertária, não conquistou o direito de nos negar o brasão de poeta entre os maiores. E aqui me ajoelho emocionado e incapaz de reverenciá-lo à altura.
Mestre...
jamás se olvidará tu grillo...
en el alma de los nocheros
bajo el ultimo lucero
que aqui es luz perseguida...
atando la cruz de tu vida
con cuerdas de mil guitarras
que vivem sobre mis garras
hecho una estrella encendida...

Sonhar um mundo melhor tem sido missão de muitos, motivos de vida de tantos. E a poesia está ligada ao tempo que nos dedicamos a reverenciar o silêncio dos poetas... suas imagens interiores e exteriores, que nos chegam provocando inúmeras sensações de bem estar, que fazem pensar: como explicar a poesia se não de maneira convidativa?
Pousem amigos leitores...
Renovem a força do olhar, respirem o que realmente é necessário à sobrevivência dos sensíveis...

Yo no soy cantor letrao,
Mas si me pongo a cantar
No tengo cuándo acabar
Y me envejezco cantando:
Las coplas me van brotando
Como agua de manantial.

Salve José Hernandez! Salve todos aqueles, que feito o pensador cubano José Marti cultivaram rosas brancas de poesia.

Cultivo una rosa blanca
en junio como en enero
para el amigo sincero
que me da su mano franca.
Y para el cruel que me arranca
el corazón con que vivo,
cardo ni ortiga cultivo;
cultivo una rosa blanca.


Tenham um bom dia.

Um comentário:

  1. Sabe Lisandro, eu vejo em ti um pouco de todos os mestres. Vejo Noel, Jayme, Cenair, Marenco, Hernandez. Tu és a miscelânea perfeita dos centauros da raça. E a poesia é seu dna. Isso é dádiva, é dom, é inspiração divina! Parabéns.

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