sábado, 10 de fevereiro de 2018

Perdi meu mate




                                              por Lisandro Amaral

As reações emocionais da perda, quando levadas a sério, podem ser renovadoras. Uma espécie de limpeza automática e inevitável chega junto ou após o luto do algo ou alguém perdido.
Nas correrias do inesquecível 32º. Rodeio da Vacaria, extraviei chão vermelho adentro, meu mate companheiro de longa data:


1-    Mateira em couro de modelo antigo. A alça nova em couro cru.
Valor: foi do uso meu falecido pai e o acompanhou por 20 anos, somando os 12 de sua partida chegamos ao valor de 32 anos de saudade;

2-    Cuia desenhada em lazer, rara e pra falar a verdade nunca vi igual.
Valor: Já estava morena das mãos e tinha sido um presente da amiga Gladis.
Quando os “olhos gordos de plantão” diziam: - Que cuia pra um presente Amaral! A resposta imediata era: SIMMM GANHEI DE PRESENTE da Gladis.

3-    BOMBA de alpaca, de tanto tempo nem lembro se comprei ou me deram. É reta e comprida que dava pra tomar mate sentado com a cuia no colo.
Valor: nunca entupia e aguardava ser bordada com nossa marca em ouro. “cozas que pasan”

4-    Térmica adesivada com as marcas de músicos amigos e marcas que vestem este cancioneiro: La Jineteada, Fagner Fotografia, Botas Ramos e outros...
Ela era imortal dos golpes, quando por várias vezes buscou o suicídio se jogando da mesa ou de um balcão alto.
Valor: uma vez por engano fiquei com a térmica do amigo Bruno Berta e ele com a minha. Decidimos não destrocar para estarmos juntos, sempre um no mate do outro. “Cozas del 

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Hoje caminhando em Pelotas onde o Carnaval se derrama pelas antigas calçadas e históricas construções, fui chegando nas lojas e refazendo meu mate.

Térmica baixinha destas que esguicham espumando o verde. 
Obs.: vou tapar de adesivos;
Bomba de inox simples, pois vou mandar fazer a do Alegrete com as iniciais em ouro; achei duas cuias morenitas para que fiquem negras nas mãos dos amigos da estrada.

Mate novo

Brinda teu mate perfeito
Porongo novo curtido
Erva verde defumada
E água quente chiada
Bem antes de ter fervido

Renova teu mate amigo
E cuida o mate da estrada
Porongo limpo e algum jujo
Não deixa teu mate sujo
Seca com brasa em tropeada  

               Renovar o mate ás vezes
Não é por vaidade ou luxo
Renovarmos por perder...
É um convite a refazer
Artefatos de gaúcho

Quem achar meu mate velho
Cuide dele de verdade
Tem bomba e cuia morena
E a mateira me condena
A 100 anos de SAUDADE.  

  

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