sábado, 3 de setembro de 2011

Um trago de alma guardada



Quando me falta o saber
por esta simples cruzada,
um trago de alma guardada
de tempo em restos que devem
por muitas vezes me pedem
por uma insana lembrança...
é ali, que a dúvida alcança
e os tempos velhos escrevem.

O inédito, a alma e o medo...
O branco -  agora palavra -
"mi nombre" quem firma e lavra
- no pergaminho do agora -
terra a dentro, um par de esporas
sangrando o eu que não vale...
peço ao que sou que se cale
não sei quem fala esta hora.

“Gauchos, índios y guerreros”,
negros com marcas sem cura?
ou brancos na noite escura
da vida que foi errada?
Mala suerte na passada,
pedem perdão e eu escrevo
e, certamente o que eu devo,
pago também na cruzada!

Aqui estou, e lá fora...
O mundo - igual para muitos -
fecundam novos assuntos;
povos se adornam de escuro
e o inconsciente, que eu juro,
trazer do mito e do medo
é!!! Meu Genuíno em segredo,
negro que escrevo e não curo.

A vida é corda pra forca...
e o nó, quem ata é o que vive.
Muito que eu quis, eu não tive!
 - Perde a razão o que erra...
O meu saber pouco encerra,
é um trago de alma guardada
que escrevo nesta cruzada
num compromisso de terra.

“Con permiso y sin permiso”
entro no mundo lá fora.
Verdade ou mentira agora?
Ato ou desato meu nó?
Por tantas vezes sou pó
domando o potro esperança
nesta hora eu sou criança
e a poesia está só.


Num trago de alma guardada.


"Chiripá rojo" (óleo) del pintor de Uruguay Juan Manuel Blanes (1830 - 1901).

6 comentários:

  1. É escasso um maula que faça música e poesia com tanto conteúdo, meus parabéns!

    Tuíra Barcellos

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  2. Tchê Lisandro....tuas palavras .....como sempre...tocam de uma forma diferente.....fazem a gente sentir cheiro de terra, do pó das mangueiras, da corda curtida do suor dos cavalos na lida.....enfim.....elas nos reportam ao local onde com certeza, todos aqueles que tem a humildade de ler e refletir, se sentem bem.....faz bem a alma......
    Parabéns!!!

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  3. Só mesmo tu para escrever assim, parabéns. Abração!!

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  4. Formam famílias os Espíritos que a analogia dos gostos, a identidade do progresso moral e a afeição induzem a reunir-se. Esses mesmos Espíritos, em suas migrações terrenas se buscam, para se gruparem, como o fazem no espaço...Se, nas suas peregrinações, acontece ficarem temporariamente separados, mais tarde tornam a encontrar-se, venturosos pelos novos progressos que realizaram.-Santo Agostinho.(Paris, 1862.)

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  5. Hoje no mundo em que vivemos, onde as pessoas olham presente e futuro, e esquecem do passado, dos ancestrais, que foram os que contruiram onde vivemos e o que somos, é indiscutivelmente um sentimento de esperança que brota, quando percebemos que ainda há pessoas como Don. Lisandro Amaral, em versos singelos, e únicos preservando a nossa verdadeira forma de vida. Pampeanos. Parabéns Lisandro...e que o pai maior te ilumine sempre, para que a hora que nos sentirmos só, podemos recorrer aos teus versos como forma de abrigo pra alma...

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  6. Talvez nem todos que leiam entendam tudo, não só nestes versos mas em outros tantos que escreveste com o superior que mesclas tão bem a nossa realidade campeira (seja lembrado que o campo é raiz e pureza), mas quem não os lê e ouve com a mente lógica, que nos induz ao erro, certamente se atem a essência do teu verso.

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