quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Mesma Mirada



                                 Baseado em fato que ouvi de Eron Vaz Mattos



   Aquarela do argentino  Rodolfo Ramos -  
Uma das capas do épico Don Segundo Sombra de Ricardo Guiraldes  - Argentina
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             Chegara ao trote da tarde como um orgulho à existência sobre a luz de um redomão. Bolicho de encruzilhada, domingo de carreirada e o Nelso o próprio rincão.  Ameaçava um chuvisco e o seu lobuno um corisco, não repetia a pisada... guardando o olho dos xucros se resvalava dos cusco e o Nelso a mesma mirada.

             O quanto existe entre a cena de ver revolta melena dos vagos homens do mundo? Pra que, na sombra da sombra, um andarilho se nombra mais que um mistério fecundo?

            Na copa inda seca do angico acalmou o redomão. E num "pssssiiiiiiiii pssssiiiiiiiiuuu  caálo” foi resvalando despassio e deixando o poncho no abraço pra que não molhe o sustento. Ficou o sombrero na gola e um maneião sem argola já vinha junto do pulso pra garantir que não solta. Froxou a boca e o carinho foi cochichando baixinho sem prometer quando volta...
           Nelso é o motivo do gole, e quando a tarde abre o fole, mesmo que esteja nublada, a sede manda que beba e a lua então que receba o fogo azul da alvorada.

           O tirador e a chorona reconhecido na zona faziam voz de chegada... um tinha som de bochincho o outro o rufo dos guinchos e marcas de embuçaladas...

Eu nunca vi domador
Sem faca e sem tirador
Mesmo que morto em carona
É um luxo ver gineteando
Mesmo que rode peleando
Eu hei de ouvir-lhe as chorona.

          Carteado, osso e três pencas...  pastel, cigarros e encrencas  - bem resolvidas ou não – Assombra o final da hora e o Nelso arrastando a espora cambalhava ao redomão.

           Dois tigres num mesmo idioma... um menestrel sem diploma, o outro couro fumaça.
Lobuno olha e recebe como entender por que bebem no funeral de uma raça...
Nelso resmunga um carinho, ata a boca e de mansinho desaba o corpo de novo.  

Lobuno olha e aceita como entender a receita que então derruba e não mata.  Nelso não perde o cabresto, de joelho ri do infesto e desmaneia das pata.
Feito um portal de esperança, agarra o chapéu na gola - já apresilhada a maneia.
Mergulha então estrivado pra retornar ao reinado GIGANTESCO E CRUZADOR.

Ameaçava um chuvisco e o seu lobuno um corisco, não repetia a pisada...
Guardando o olho dos xucros se resvalava dos cusco e o Nelso:


                                                       A mesma mirada.






5 comentários:

  1. Oi Lisandro, a pintura é de Rodolfo Ramos,
    Segue um link com vários pintores e suas obras:

    http://www.taringa.net/posts/arte/16273927/Pintura-Gauchesca-Argentina-MegaPost.html

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  2. Uma das interpretações mais emocionantes, senão a mais, que já vi em nossa cultura. Da altura da de José Cláudio ao embargar a voz ao cantar Milonga Abaixo de Mal Tempo. Obrigado, Lisandro, por enriquecer de tal maneira nossa rica cultura, 'levando pro palco o pó do teu galpão'!

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